Centro Histórico de Cruzeta

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Fotografia do Centro Histórico de Cruzeta tirada em meado dos anos 1960

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O QUE É EDUCAÇÃO PATRIMONIAL?

 Foi a museóloga Maria de Lourdes Parreira Horta no início da década de 1980 a primeira a utilizar de uma proposta metodológica para a aplicação de ações educacionais voltadas para o uso e a apropriação dos bens culturais em termos práticos e conceituais inspirado no trabalho pedagógico desenvolvido na Inglaterra designado por Heritage Education
Curso de Educação Patrimonial desenvolvido em Limoeiro do Norte/CE

O texto publicado a seguir é uma análise sucinta desenvolvida por Horta como conhecimento profícuo de suas experiências na aplicação da metodologia de Educação Patrimonial durante sua gestão no Museu Imperial do Rio de Janeiro. Nele a autora aborda os principais conceitos e atividades práticas que envolvem e orientam a aplicação desta metodologia em diferentes contextos e locais procurando discutir e responder a questão o que é Educação Patrimonial. 
Estudantes participantes do Projeto de Educação Patrimonial realizado em Cruzeta/RN visitam Igreja Barroca no município de Acari/RN 

Para Maria de Lurdes Parreira Horta a Educação Patrimonial “trata-se de um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. Isto significa tomar os objetos e expressões do Patrimônio Cultural como ponto de partida para a atividade pedagógica, observando-os, questionando-os e explorando todos os seus aspectos, que podem ser traduzidos em conceitos e conhecimentos. Só após esta exploração direta dos fenômenos culturais, tomados como “pistas” ou “indícios” para a investigação, se recorrerá então às chamadas “fontes secundárias”, isto é, os livros e textos que poderão ampliar esse conhecimento e os dados observados e investigados diretamente.
A partir da experiência e do contato direto com as evidências e manifestações da cultura, em todos os seus múltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho da Educação Patrimonial busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto desses bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, um processo contínuo de criação cultural. 
Participantes do Projeto de Educação Patrimonial desenvolvido em Cruzeta/RN visitam o Museu do Sertanejo, Acari/RN
A observação direta e a análise das “evidências” (aquilo que está à vista de nossos olhos) culturais permitem á criança ou ao adulto vivenciar a experiência e o método dos cientistas, dos historiadores, dos arqueólogos, que partem dos fenômenos encontrados e da análise de seus elementos materiais, formais e funcionais para chegar a conclusões que sustentam suas teorias. O aprendizado desse método investigatório é uma das principais capacitações que se pode estimular nos alunos, no processo educacional, desenvolvendo suas habilidade de observação, de análise crítica, de comparação e dedução, de formulação de hipóteses e de solução de problemas colocados pelos fatos e fenômenos observados.
O conhecimento crítico e a apropriação consciente por parte das comunidades e indivíduos do seu “patrimônio” são fatores indispensáveis no processo de preservação sustentável desses bens, assim como no fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania. O patrimônio, como o nome diz, é algo herdado de nossos pais e antepassados. Essa herança só passa a ser nossa, para ser usufruída, se nos apropriarmos dela, se a conhecermos e reconhecermos como algo que nos foi legado, e que deveremos deixar como herança para nossos filhos, para as gerações que nos sucederão no tempo e na história. Uma herança que constitui a nossa riqueza cultural, individual e coletiva, a nossa memória, o nosso sentido de identidade, aquilo que nos distingue de outros povos e culturas, que é a nossa “marca” inconfundível, de pertencermos a uma cultura própria, e que nos aproxima de nossos irmãos e irmãs, herdeiros dessa múltipla e rica cultura brasileira. 
Mesa Redonda com importantes representantes da Cultura Popular do Município de Cruzeta/RN abre espaço para discussão entre participantes do projeto de Educação Patrimonial
O conhecimento dos elementos que compõe essa riqueza e diversidade, originários de diferentes grupos étnicos e culturais que formaram a cultura nacional, contribui igualmente para o respeito à diversidade, à multiplicidade de expressão e formas com que a cultura se manifesta, nas diferentes regiões, a começar pela linguagem, hábitos e costumes. A percepção dessa diversidade contribui para o desenvolvimento do espírito de tolerância, de valorização e de respeito das diferenças, e da noção de que não existem povos “sem cultura”, ou culturas melhores do que outras. O diálogo permanente que está implícito neste processo educacional estimula e facilita a comunicação e a interação entre as comunidades e os agentes responsáveis pela preservação e o estudo dos bens culturais, possibilitando a troca de conhecimentos e a formação de parcerias para a proteção desses bens. 
Importante trabalho de Educação Patrimonial desenvolvido no município de Contagem/MG
A Educação Patrimonial pode ser assim um instrumento de “alfabetização cultural” que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido. Este processo leva ao desenvolvimento da auto-estima dos indivíduos e comunidades, e à valorização de sua cultura.”
Imagem de ação de Educação Patrimonial desenvolvida em Marechal Deodoro/AL



(Fonte: Guia Básico de Educação Patrimonial/ Maria de Lourdes Parreiras Horta, Evelina Grumberg, Adriane Queiroz Monteiro - Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial, 1999)

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